quinta-feira, 27 de março de 2008

INFORMAÇÃO E COMPLEXIDADE - Marivalde Moacir Francelin[1]

INTRODUÇÃO

A informação depende, como visto nos capítulos anteriores, de ações que a coloquem no ambiente de sentido e significado. As ações de informação passam, necessariamente, pelos fatos da linguagem que são, por sua vez, caracterizados como fontes da organização e da ordem social, proporcionando-lhe identidade, cultura, conhecimento e desenvolvimento. Através da linguagem transmite-se a informação com as mais nobres e torpes intenções. A informação permeia o imaginário social de tal forma que chega a ditar condutas “morais” e estabelecer códigos de “ética”. Não seria uma ética da linguagem informacional, mas uma ética embutida nessa linguagem, ou seja, regras transmitidas e não de transmissão de informação.

Esse conjunto, aparentemente, aleatório de regras, convenções e fluxos formam uma intrincada teia de relações que se chama complexidade. Os fatos da linguagem e as ações de informação servem para ilustrar uma dinâmica maior no interior de um sistema extremamente complexo que liga e re-liga diversos níveis dentro de um contexto humano e natural. É nesse contexto que o presente capítulo procura se inserir através do que se denomina “informação e complexidade”.

Um universo de lacunas abre-se na tentativa de abordagem de tema tão ambicioso. Evidentemente encontrar-se-á um discurso direcionado, às vezes, aleatório e, aparentemente tautológico. A representação proporcionada pela escrita gera produtos que fogem a objetivos pré-estabelecidos e à própria vontade. Representação e perspectivismo estão juntas na busca incessante pelo conhecimento, mais precisamente, pela busca de entendimento sobre o próprio conhecimento. Esta é uma das funções da epistemologia da complexidade; esta é uma das funções da epistemologia da informação.

Parte 1

EPISTEMOLOGIA DA INFORMAÇÃO: REPRESENTAÇÃO, PERSPECTIVISMO E COMPLEXIDADE

I

Geralmente, a referência utilizada aos estudos sobre informação é a de estudos de “informação para a ação” ou dos impactos da informação técno-científica (Santos, 2003; Araújo, 1998; Araújo, 1989). A pluralidade de análises sobre o objeto informação (Robredo, 2003; Capurro; Hjorland, 2007) marca as últimas décadas do século XX e traz à tona um amplo e rico processo inter e transdisciplinar.

Nesse caso, parece que a interdisciplinaridade passou de proposta a fato, dando vazão a uma série de trabalhos com novas abordagens. Pode-se citar as pesquisas de informação relacionadas aos campos econômico, estatístico, cognitivo e filosófico. Essa construção não cessa, pois, está em consonância com os aspectos de continuidade e descontinuidade da ciência contemporânea. A epistemologia se ocupa do estudo dessa construção e Gaston Bachelard é, segundo Japiassu e Marcondes (1990), o seu precursor na contemporaneidade.

É evidente que o pensamento complexo se desenvolve, atualmente, através da obra de Edgar Morin. O estudo das relações que propõe vão além das fronteiras disciplinares, como se pode observar em suas incursões, por exemplo, na teoria de sistemas, no princípio de ordem e de desordem e no princípio de incerteza. (Pena-Vega; Nascimento, 2001). Em Gaston Bachelard tais fronteiras são ultrapassadas pelo “espírito científico”, pela negação do cartesianismo e do determinismo e pelo desenvolvimento de uma “psicologia” científica. (Barbosa; Bulcão, 2004; Pessanha, 1978). Em Ciência da Informação, conforme Capurro (2003), essa transposição de fronteiras é realizada pelos paradigmas físico, cognitivo e social.

O epistemólogo deve, pois, captar os conceitos científicos em sínteses psicológicas efetivas, isto é, em sínteses psicológicas progressivas, estabelecendo, a respeito de cada noção, uma escala de conceitos, mostrando como um conceito deu origem a outro, como está relacionado a outro. (Bachelard, 2001, p.22-23).

O que Bachelard, assim como Morin, chama de progresso não é aquele linear e determinista, mas um progresso através de malhas de relações. São malhas de relações conceituais que se multiplicam e enriquecem o conhecimento.

Por outro lado, identifica-se aqui um problema em torno da relação conceitual, pois, não é recente e nem menos complexa a relação entre informação e conhecimento. (Silva, 2003). Essa perspectiva pode trazer uma idéia “recente”, a de que ao se falar em conhecimento também se esteja, implícita ou explicitamente, referindo-se à informação.

A informação como fenômeno, embora remonte ao sempre do homem, adquiriu autonomia como objeto de reflexão contemporaneamente, induzida pela enorme velocidade na produção e consumo do conhecimento, geradores da fragmentação e especialização. Nessa direção, pode ser entendido que o papel anteriormente desempenhado pelo conhecimento como orientador pessoal das ações e comportamentos humanos em um contexto de saberes estáveis (cumulativos e verdadeiros), sofreu uma transformação em sua essência, como decorrência de todos os pontos acima apontados; não sendo estável, o conhecimento antigo pode ser substituído por um novo; não sendo universal e absoluto, pode ser desalojado por outro mais adequado à circunstância do momento; não sendo possível abarcar a totalidade dos fenômenos examinados pela humanidade em um conjunto unitário, apreensível por um indivíduo, pode ser fragmentado; e assim por diante, ininterruptamente, exigindo outro modo de representação: a informação. (Cardoso, 1996, p.72-73).

Nesse caso, pode-se dizer que aos questionamentos, aos primeiros questionamentos sobre o conhecer já se estaria, de certa maneira, incorporada a questão do informar. O exemplo parece extremo, mas ajuda a ilustrar um panorama mais abrangente, porém possível, na relação entre informação e conhecimento.

Não é fácil divisar informação e conhecimento, principalmente no processo de conhecer e informar, por exemplo. Isso, definitivamente não quer dizer que toda informação pressuponha conhecimento (Breen, 2001). Ou seja, “O passo da informação ao conhecimento é um processo relacional humano, e não mera ocupação tecnológica.” (Assmann, 2000, p.8).

Analogamente, estabelece-se que, apesar de Bachelard fazer uma distinção entre senso comum e conhecimento científico (Bachelard, 2001), acrescentar-se-á que as discussões e debates deslocaram-se, antes com Bronowski (1977a; 1977b; 1979) e agora com Santos (2000; 2004), em consonância com a idéia de um informar e de um conhecer tanto no sentido do “conhecimento” do senso comum como no sentido do “conhecimento” científico. Isso implica que senso comum e ciência são conceitos distintos, porém, relacionados. Esta distinção é necessária, pois, a relação entre informação e conhecimento não se dá apenas no âmbito científico, também aparece no cotidiano comum.

Mas é necessário frisar que o objeto de estudo e, portanto, de conhecimento da Ciência da Informação é a informação. Abre-se nesse momento para a Ciência da Informação um fecundo, porém complexo, objeto de estudo. Trata-se de construir estruturas teóricas, conceituais e metodológicas sobre a informação da informação e sobre o conhecimento do conhecimento.

Não é por acaso que Morin chama de “camaleônico” o conceito de informação.

Ela é poliscópica; ela já é, em sua radicalidade, camaleônica. Ela troca insensivelmente de cor segundo a conjetura em que ela se encontra, segundo o olhar do observador: signo, engrama, programa, arquivo e memória são aspectos, alguns ainda embrionários, todos ainda indistintos uns dos outros.

Já vemos outros aspectos se esboçarem: saber, já que na memoteca se encontra inscrito o saber que uma linhagem tem dela mesma e do mundo; saber-fazer, já que sua práxis comporta métodos, técnicas, estratégias que permitem a um ser vivo se construir e viver. Esses diversos aspectos e ainda outros vão se diferenciar, vão se desenrolar no e a partir do aparelho informacional epigenético mais impressionante: o cérebro humano. (Morin, 2002c, p.402).

No campo da Ciência da Informação as dificuldades para se conceituar informação parecem que vêm aumentando ao longo do tempo, veja-se, por exemplo a definição proposta por Wilden:

A informação apresenta-se-nos em estruturas, formas, modelos, figuras e configurações; em ideais e ídolos; em índices, imagens e ícones; no comércio e na mercadoria; em continuidade e descontinuidade; em sinais, signos, significantes e símbolos; em gestos, posições e conteúdos; em freqüências, entonações, ritmos e inflexões; em presenças e ausências; em palavras, em acções e em silêncios; em visões e silogismos. É a organização da própria variedade. (Wilden, 2000, p.11).

Outros autores ainda podem ser citados como Robredo (2003), Aquino (2002), Mcgarry (1999) e até mesmo Le Coadic (1996). Este último, aliás, propõe uma espécie de redução no já citado conceito “camaleônico” de informação, aproximando-o à “cognição e comunicação humanas”. (Le Coadic, 1996, p.5). Mesmo assim não parece reduzir a complexidade desse objeto, deslocando o seu conceito para a relação com o conhecimento.

Esses comentários sobre o conceito de informação são apenas exemplos rápidos mas suficientes, neste momento, para ajudar a entender o por que de Bachelard dizer que:

Sente-se pouco a pouco a necessidade de trabalhar sob o espaço, no nível das relações essenciais que sustentam tanto o espaço quanto os fenômenos. O pensamento científico é então levado para ‘construções’ mais metafóricas que reais, para ‘espaços de configuração’, dos quais o espaço sensível não passa, no fundo, de um pobre exemplo. (Bachelard, 2001, p.7).

Quanto mais elaborado, profundo e metódico for o conhecimento científico mais próximo da verdade ele se encontrará, portanto, mais metafórico.

Além do mais,

A metáfora poderia ser um dos instrumentos de descrição e entendimento das ações de informação, gerando uma zona de negociação de significados e uma ponte entre o princípio de autonomia de cada campo científico e o princípio de transversalidade e reinterpretação que requer a geração transdisciplinar de conhecimentos. (González de Gómez, 2004, p.67).

Esse paradoxo é fundamental para tentar explicar a complexidade de se trabalhar com determinados conceitos, como no caso, por exemplo, da informação.

Será à luz dessa problematização abrangente que se abre uma nova frente de pesquisa em torno da informação – um conceito quase metafórico para designar uma pluralidade de produtos, insumos, relações e dispositivos constituídos nas mais longas e complexas cadeias das atividades científico-tecnológicas, as investigativas e as decisórias, as heurísticas e as disseminadoras. (González de Gómez, 2003, p.62).

Pode-se dizer que o conhecimento científico em Ciência da Informação se constrói a partir de pesquisas sobre informação na qual se aproximam senso comum e ciência, não apenas em suas características semânticas e lingüísticas, mas também epistemológicas.

II

A informação está na origem da pós-modernidade (Francelin, 2004b; 2004c). Não há como dissociar informação e pós-modernidade. A sociedade pós-moderna é baseada em informação. A ciência pós-moderna é baseada em informação. O pensamento pós-moderno é baseado em informação. Tais afirmativas apenas são feitas porque se acredidta que a pós-modernidade comporta as teorias relacionais, como a da complexidade, a sistêmica, a cibernética, a quântica, a do caos, as da linguagem, da comunicação, da informação, etc. A demarcação é tênue e frágil, mas necessária para caracterizar uma época na qual nossas convicções sobre a relação do homem com o mundo e, portanto, sobre tudo o que ele é e produz, transformaram-se em grandes metáforas.

O pensamento pós-moderno é pensado a partir da informação que o constrói. Ao longo da história do pensamento (filosófico) científico, da Idade Antiga (Clássica) à Idade Contemporânea, a informação quase sempre esteve presente como essência (fundamental) para o desenvolvimento da ciência. Foi através do conhecimento construído a partir da informação que se des-construiu outros conhecimentos, dando início a re-inícios no pensamento científico ou o que se chama novos paradigmas. As crises dos paradigmas científicos também são crises de informação.

Para Cardoso, a informação é entendida como um fenômeno que “[...] adquiriu autonomia como objeto de reflexão contemporaneamente, induzida pela enorme velocidade de produção e consumo do conhecimento, geradores de fragmentação e especialização.”. Referindo-se ao conhecimento, a autora diz que este último já não é mais estável, absoluto e universal, é por outro lado “fragmentado” e se adapta à “circunstância de momento”, o que exige um “[...] outro modo de representação: a informação.” (Cardoso, 1996, p.72-73).

III

A partir desta representação, o objeto toma forma, é definido, é conceituado, ganha propriedades (além daquelas que já possui), é debatido, estudado, é des-construído para ser novamente construído através de uma nova representação. Para se conhecer é necessário se conhecer algo. A representação se processa pelo sujeito que transforma algo em um objeto conhecido. O sujeito conhecedor e objeto conhecido são os principais elementos para a existência do conhecimento.

Na história do conhecimento, a relação entre sujeito e objeto não é uniforme, nem o poderia ser. As escolas de pensamento mudam e, com elas, o próprio pensamento e vice versa – desde pequenos detalhes, aspectos superficiais e bases metodológicas até sua gênese mais profunda. Não importa a intensidade ou onde ocorre a mudança.

Quanto mais interpretações se somam, muitas mais surgirão. É a capacidade humana de construção-desconstrução-construção do conhecimento através do próprio conhecimento. O aumento da capacidade de conhecer através das impossibilidades expostas pelo próprio conhecimento dão, ao sujeito conhecedor, novas possibilidades de conhecimento sobre o objeto a ser conhecido – mesmo que estas possibilidades sejam impossibilidades. Por fim, o próprio sujeito torna-se objeto. Não há apenas o sujeito no processo de conhecimento. O sujeito continua sujeito, porém, representa-se como objeto. O ser humano a partir do próprio ser humano[i].

A noção de sujeito conhecedor e sujeito conhecido pode parecer confusa mas, não se é entendida e pensada através do estudo do próprio ser. Quando se pergunta: O que é conhecimento? O que se pode conhecer? O que se pode conhecer do conhecimento? Quais os limites do conhecimento? Pergunta-se, justamente, pelo ser humano. O que ele é? O que pode se tornar? Quais os seus limites? A história do conhecimento é a história do ser humano. As interrogações em torno dessa ou daquela história, são, na “realidade”, interrogações a ambas. A história do ser humano e a história do conhecimento se confundem, porém, distinguem-se em diferentes modos de observação.

O conhecimento supõe, obrigatoriamente, a relação entre sujeito e o objeto. Não há história nem desenvolvimento do conhecimento sem essa relação. A idéia de um sujeito cognoscente conduz à idéia de um sujeito que representa. O objeto surge a partir desta representação. Isto é, surge um objeto inteligível à mente humana – um realismo externo ou posição-padrão segundo Searle (2000) -, o que significa que ele (o objeto) pode existir fora da realidade humana, porém, pode ser que não seja perceptível (o objeto pode existir como coisa ininteligível, portanto, inominável).

A referência a uma realidade inacessível não significa que o mundo que se conhece é composto por ilusões, apenas pode ser um mundo aparente. A realidade se apresenta dessa forma. A busca pelo conhecimento, segundo Luckesi e Passos, passa pela “elucidação” desta realidade aparente.

É isto o que movimenta e dá possibilidades para o conhecimento se desenvolver – a busca pelo sentido e verdade nas coisas, na realidade aparente. Pois, o mais importante “[...] para o conhecimento, é tornar essa realidade compreendida, clara, iluminada.” (Luckesi; Passos, 2002, p.16).

Para Luckesi e Passos, este processo de apreensão e “filtro” da realidade não existe sem um sujeito “[...] capaz de apropriar-se simbólica e representativamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de forma abstrata com seus símbolos e representações.” O sujeito não é exclusivo nesta relação, depende dos “fragmentos de luz” da realidade para compor os seus conceitos e, por extensão, o seu objeto. (Luckesi; Passos, 2002, p.16)[ii]. Sujeito e objeto estão sempre em movimento. As relações dependem deste movimento. O conhecimento depende destas relações. Não há conhecimento sem relações. Não há relações sem sujeito e objeto.

O sujeito não “cria” o objeto, ele o percebe e o representa. O sujeito conhece a partir das relações estabelecidas com o objeto e/ou a partir das relações deste objeto com outro objeto. Ao se perceber e representar um objeto, somam-se a ele fenômenos (imprevistos ou acaso) e, são estes que denunciam, através de suas lacunas e obscuridades, a impossibilidade de um conhecimento total, absoluto e verdadeiro. Esta impossibilidade é o motor do conhecimento humano. É através da idéia do indefinido, do infinito, do não definitivo, que o conhecimento se desenvolve.

IV

A complexidade pode se apresentar, por vezes, através de “obscuridades” que se tornarão uma das características da epistemologia complexa. A idéia de um conhecimento claro e verdadeiro gera, inevitavelmente, a idéia de dúvida em torno do conhecimento absoluto.

O determinismo se consolida a partir da necessidade de se atribuir um sentido simples à “materialização do Mundo”. Em processos redutores e elementares se contextualiza o determinismo. Isto significa a eliminação de fenômenos que exigem maior apuração para a sua inteligibilidade. O determinismo precisa fazer escolhas e afastar-se dos “fenômenos perturbantes e insignificantes”. Nestes casos, os fenômenos são considerados “insignificantes” pelo pensamento determinista, o que não reflete a gênese ou o comportamento de tais fenômenos. Ou seja, o determinismo possui em sua base a idéia de simplificação que dá suporte ao mecanicismo. “Daí o ideal do período mecanístico: para que tudo seja determinado no fenômeno é preciso que tudo nele seja redutível às propriedades mecânicas.” (Bachelard, 1978, p.142).

O indeterminismo supera essa simplificação e prevê um extrapolar em sua composição, transcendendo os limites impostos pelo determinismo e resgatando a idéia de relação. Os fenômenos podem ser infinitos em suas relações com/no mundo. A indefinição está na base do indeterminismo, ou seja, a partir dos fenômenos geram-se os eventos perceptíveis, porém, mesmo sendo estes trazidos para o campo do real cognitivo, continuam com a sua principal característica: a imprevisibilidade. O evento é perceptível, pode ser descrito e identificado, mas, não é previsível em suas ocorrências e/ou manifestações. Bachelard não faz menção aos eventos, mas, aos fenômenos em si. Nesse sentido, considera que se os fenômenos “dependem” uns dos outros, dependência que leva à determinação; se, ao contrário, são independentes entre si, são indeterminados[iii]. (Bachelard, 1978, p.147).

É claro que, estas são propostas de relações à epistemologia complexa, o que não significa que sejam condições para uma epistemologia complexa. Porém, não evitará a influência destas relações, pois, é controlada e controladora ao mesmo tempo. “A epistemologia complexa não tem fundamento.” Ou seja, “[...] a epistemologia complexa não é o centro da verdade, gira em torno do problema da verdade passando de perspectiva em perspectiva e, tomara, de verdades parciais em verdades parciais...” (Morin, 2002d, p.32). Mesmo parecendo ser inviáveis tais processos, deve-se pensá-los como possibilidades para o próprio pensamento, ou seja, para o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento.

Ao se “auto-analisar”, Morin parece deixar claro um pensamento desenvolvido a partir de pulsões, uma certa aproximação do possível e do impossível, do finito e do infinito, do todo e da parte, do tudo e do nada, tenta pensar o entre-meio, o inter-médio destas relações, além das relações em si. Propõe pensar as lacunas, os vácuos, os ruídos, as anomalias, o vazio e a obscuridade através de posições claras e complexas ao mesmo tempo. Para Morin, “[...] estamos sem dúvida lançados na aventura indefinida e infinita do conhecimento.” (Morin, 1996, p.99).

É bom ter em mente que O problema epistemológico da complexidade, na perspectiva moriniana, não se restringe à problemas filosóficos, ou sociológicos, ou culturais, mas, abre-se a questões filosóficas, sociológicas, culturais, econômicas, políticas, psicológicas, biológicas, ecológicas e assim por diante. Edgar Morin propõe a abertura do pensamento através da complexidade. A teoria da complexidade suscita um modo de pensar que instiga e estimula. Porém, espera-se que a epistemologia da complexidade esteja trabalhando não apenas pelo pensamento complexo, mas principalmente, pelo pensamento ou conhecimento produzido ou desenvolvido pelo pensamento complexo.

Parte 2

A EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE E A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO[2]

I

A Ciência da Informação é a área do conhecimento que possui como objeto de estudo a própria informação. A Ciência da Informação surge como “[...] uma nova disciplina, de forma tentativa e vibrante, de uma síntese de partes de diversos campos em um novo e coerente todo, e não como uma simples ampliação ou desenvolvimento de partes, ou mesmo de um todo existente.” (Foskett, 1980, p.44-45). Como a informação é o elemento/fenômeno que está na base das relações de complexidade, em natureza e fluxo constantes, é necessário que um dos contextos principais de sua abordagem seja o da Ciência da Informação. Dessa forma, uma epistemologia da complexidade é, na realidade, uma epistemologia da informação. A base da complexidade são os aspectos relacionais dos sistemas e o seu ponto de ligação e, ao mesmo tempo de ruptura, destes sistemas é a informação.

É uma escolha vantajosa, pois, a Ciência da Informação incorpora traços das ciências pós-modernas (das ciências “novas” e/ou contemporâneas), consolidando-os ao redor de um objeto que representa todo um conjunto de teorias plurais. Consolida-se uma epistemologia da informação por meio de uma epistemologia da complexidade, pois, vão da complexidade ao sistemismo, passando pela cibernética e teoria da informação, acenando para perspectivas de análises cada vez mais inovadoras.

II

A epistemologia da complexidade partiria, segundo Morin (2001, p.68), da abolição do “epistemólogo” detentor de todos os caminhos do conhecimento científico e controlador de seus métodos e procedimentos. A ciência, segundo Bachelard (1978, p.97), chama a atenção por alegar uma unidade que não corresponde com a sua instabilidade, o que elimina a possibilidade de uma epistemologia também unitária que não fosse reducionista e distante da realidade sistêmica que envolve o ambiente do próprio conhecimento.

A abordagem científica requer alguns pressupostos filosóficos básicos em torno da teoria do conhecimento contemporâneo[iv]. Porém, a contemporaneidade fundamenta-se no que se chama pós-modernidade que, por sua vez, não se aparta, no sentido de isolamento, da própria modernidade[v].

São importantes as diversidades e as multiplicidades conceituais na pós-modernidade. Isto pode ser explicado pela convergência de disciplinas distintas do conhecimento, fornecendo conteúdo epistemológico para a construção de novas teorias. Por outro lado, a facilidade e a meleabilidade teórica e epistemológica trazem problemas conceituais que dificultam a aproximação entre ciência e filosofia (Francelin, 2004a).

A fragilidade em torno de conceitos recém construídos ou apropriados de outras disciplinas propõe um recuo disciplinar frente às possibilidades de integração, o que não seria tido como um processo de regressão se a máxima não fosse o isolamento por hierarquias e classificações. Questão exemplar é a que se refere ao próprio conceito de pós-modernidade, considerado já irrelevante a partir do progresso de recentes discussões sobre a temática[vi].

Tal hipótese não comporta um reducionismo a-crítico, mas um elemento, no sentido de procedimento, redutor crítico e sistemático[vii] – distante de qualquer princípio de neutralidade e imparcialidade.

Em tempos recentes as indicações paradigmáticas se multiplicaram[viii], transformando-se em teorias várias, com distintos níveis de complexidade. Quase que, imediatamente, muitas dessas indicações paradigmáticas e dessas teorias complexas foram incorporadas aos campos teóricos de diversas disciplinas. As “apropriações”, frise-se, devidas, não possuem caráter nulo e muito menos servem de repositório para ataques críticos sem um compromisso com a construção do conhecimento. Pelo contrário, o conjunto epistemológico que envolve paradigmas e teorias complexas acabou por, paradoxalmente[ix], propiciar um nível de “maturidade” metodológica e consolidação científica necessárias às ciências “novas”.

A complexidade proposta por Edgar Morin se refere então a um conjunto de eventos, principalmente aqueles ligados à área científica, que ocorreram no final do século XIX e que foram sendo debatidos, combatidos e assimilados no decorrer do século XX. Pode-se dizer que o que houve na realidade foi um certo tipo de Revolução (Japiassu, 1985; Kuhn, 2001; Epstein, 1988), pois foram quase três séculos de determinismo, de racionalismo, de univocidade, de concepção mecânica de mundo e, principalmente, da certeza que se transferia ao experimento científico; tudo isso cai por terra com as descobertas da própria ciência (Morin, 2002a; 2002b; 1999).

Primeiramente, tem-se a revelação de que existem fenômenos que não se consegue explicar. O próprio ser humano é um deles, o universo também, a vida e a morte, o amor, o ódio (a reaproximação da filosofia e da ciência) (Moles, 1971). Depois, descobre-se que o mundo pode ser um sistema (Von Bertalanffy, 1977), um ecossistema, e que suas partes (fragmentos) não estão nem podem ser vistas e estudadas sem a compreensão e aceitação do todo onde figuram. Claro que não se pode explicar de maneira lógica as relações e inter-relações deste todo e de suas partes e vice-versa. É por isso que se chama pensamento complexo, pois parece não haver uma lógica para estas relações aparentemente sistêmicas, é o que Morin (1999; 2002a) denomina a "ordem dentro da desordem" ou a "certeza da incerteza.

Pode ser que a maneira como a ciência dita clássica ou moderna (para quem aceita o pós-moderno como período vigente) (Santos, 2000), via o homem e o universo, compreendendo aqui todos os eventos naturais e, supostamente, não naturais que ocorriam à sua volta, era quase unívoca, ou seja, acreditava em um mundo mecânico, em um ser humano mecânico e em uma relação mecânica entre ser humano e o mundo, e que tudo isso poderia ser explicado (Moles, 1971; Price, 1976). A ciência “nova” surge para dizer não, o ser humano não é mecânico, também vive de incertezas e de desordem; o mundo funciona por meio de um conglomerado caótico (Prigogine, 2002; 1996) e que a mente humana não pode concebê-lo com exatidão em suas estruturas, pois podem não ser fixas, talvez sejam mutantes, imprevisíveis e auto-organizáveis, ou seja, em um sistema aparentemente caótico, o mundo se auto-regula e se auto-organiza (Morin, 1999; 2002a).

É possível que a intenção de Edgar Morin, ao longo de sua obra, quando expõe o pensamento complexo, seja justamente a de alertar para a própria existência da complexidade, contrapondo-se ao convencionalismo científico. Neste sentido, infere-se que muitas coisas podem ter sido decididas e feitas por convenção, o próprio conservadorismo pode ser uma convenção, um certo tipo de instinto conservativo em oposição ao instinto formativo (Bachelard, 2001).

Parece que a aproximação de Bachelard e Morin (Francelin, 2005) talvez seja bem-vinda neste momento, pois entende-se que pode ser a partir de um instinto conservativo que se manteve por tanto tempo a premissa racionalista e determinista da ciência e, mesmo com a própria ciência aceitando a imprevisibilidade do mundo (veja-se, por exemplo, a física) (Prigogine; Stengers, 1984), o debate em torno dos novos paradigmas e das possíveis rupturas epistemológicas ocorridas na ciência quase que atravessou o século XX (Santos, 2002; 2001; 2000).

Nesse sentido, entende-se que talvez seja o momento de se imbuir no instinto formativo proposto por Bachelard e tentar entender esta intrigante Teoria da Complexidade proposta por Edgar Morin e o que este último quer dizer com as "[...] três teorias que constituem uma via de inteligibilidade para este novo mundo que se ergue diante de nós" (Morin, 1999, p.29) e o que isto tem a ver com a ciência da informação.

III

Ao se considerarem o instinto formativo e o instinto conservativo expostos por Bachelard (2001), parece que a epistemologia da ciência da informação talvez não tenha a mesma preocupação já expressa por Japiassu (1981), quando este se refere a uma epistemologia das ciências humanas, pois entende-se que a ciência da informação limita-se ao instinto conservativo, principalmente quando (apenas) relacionada a questões técnicas e mecânicas que, inquestionavelmente, fazem parte de sua estrutura, porém não são exclusivas em sua formação (Machlup; Mansfield, 1983; Saracevic, 1996; 1995).

A ciência da informação pode ser considerada uma disciplina científica consolidada, desenvolvendo-se constantemente, tentando, como outras disciplinas, estabelecer-se em um período turbulento para ciência, que toma características de nova através de rupturas epistemológicas e paradigmáticas ocorridas no decorrer do século XX (Wersig, 1993; González de Gómez, 1993; Galvão, 1998; Pinheiro; Loureiro, 1995). Portanto, entende-se que um espírito conservador tomado neste momento pela ciência da informação apenas serve para dificultar a construção do estatuto científico desta disciplina. A ciência da informação, na postura de seus pesquisadores, professores e alunos, teria de ser representada pelo instinto formativo bachelardiano, segundo o qual poderia fazer uso de suas relações (inter)disciplinares para estruturar-se e desenvolver-se a partir de uma nova concepção paradigmática e epistemológica.

Conservar um espírito investigativo preocupado apenas com o processo de tratamento e disponibilização da informação ao indivíduo talvez seja outro motivo para uma reflexão da ciência da informação, pois a informação tomou proporções tais no mundo contemporâneo (Mattelart, 2002; Dupas, 2000), que uma disciplina que se propõe estudá-la em seu contexto de atividade não pode omitir-se ao estudo do indivíduo e também do contexto que o envolve.

Há algum tempo existe certo desconforto com a situação dos estoques de informação. Tal questão foi longamente debatida, soluções surgiram das mais diversas fontes, quase todas propondo e realizando a facilidade de acesso a tais informações. Diversos programas surgiram para acompanhar a onda da socialização informacional fundamentada em um idealismo fortuito e, por vezes, ilusório. Parece que parte dos cientistas da informação apoiaram programas que propunham socializar a informação, isto não em nível micro, mas em macro, ou seja, o ensejo da socialização da informação embalada pela construção de grandes sociedades de informação.

Aparentemente, pode ser que a quantidade de informação disponibilizada não signifique necessariamente socializar, pois entende-se que, neste último caso, teria de haver certa reciprocidade. Portanto, a informação, para ser socializada, precisaria ser aceita pelo indivíduo, e, para que isto ocorresse, os responsáveis por este projeto de socialização também deveriam saber se o indivíduo possui a disposição de receber a informação disponibilizada (Baudrillard, 1994) e se o simples fato de o indivíduo aceitar a informação poderia significar a socialização - realmente, um círculo vicioso, um andar às cegas. Se isto não partir de maior esclarecimento, a informação pode continuar sendo estoque, o que, de certa maneira, mantém o instinto conservativo da ciência da informação.

Aceitando-se o objeto de estudo da ciência da informação em seu contexto, talvez não seja tarefa difícil detectar a relação entre a "Trindade profana" proposta por Morin e a ciência da informação. São três teorias já conhecidas da ciência da informação que fazem parte desta "Trindade": a teoria de sistemas, a cibernética e a teoria da informação. Vale lembrar que Morin reputa, à função da teoria de sistemas, da cibernética e da teoria da informação, uma possível via de entendimento de mundo que considera complexo, não suas relações, pois isto não seria possível devido às limitações da capacidade humana e dos fenômenos inexplicáveis propostos pela natureza, mas sim analisar a complexidade que permeia estas relações.

O que talvez Morin queira esclarecer por meio destas três teorias é que a informação, como a própria ciência da informação a entende, esteja presente em quase todas as fases da auto-organização de mundo proposta pelo autor e justamente naquilo em que a ciência da informação talvez não conceba tal ocorrência, ou seja, no ruído da mensagem entre emissor e receptor através de um canal, "[...] (ordem a partir do ruído), não apenas da desordem, mas a partir do ruído" (Morin, 1999, p.29). Portanto, parece ser interessante à ciência da informação uma aproximação do instinto formativo bachelardiano da complexidade morinana e sua "Trindade profana" (teoria da informação, cibernética e teoria de sistemas), pois entende-se que este possa ser o caminho para possível compreensão de determinados contextos de complexidade que possam envolver a atividade informacional.

IV

O ruído, no processo informacional, pode ser caracterizado como uma "anomalia" na transmissão de informações. Trata-se de um fator prejudicial na percepção da informação pelo indivíduo ao qual se deseja transmitir algo.

Parece que, quando ocorre certo tipo de evento caracterizado como ruído, a informação se fragmenta, e parte destes fragmentos pode perder seu sentido, provocando desordem em um processo supostamente ordenado. Não querendo entrar na discussão sobre a questão de existir ou não ruído em todo o processo informacional, parte-se do pressuposto utilizado por Morin (1999; 2002a) sobre ordem e desordem, por meio do qual o ruído também pode ser uma informação dentro de outra informação, ou seja, a informação da informação. Sendo o ruído uma possível desordem, isto quer dizer que ele possui uma ordem (ordem a partir do ruído) e, dessa maneira, o ruído também pode ser uma informação.

Isto significa que o ruído, através de determinado foco de interpretação, pode servir para ilustrar um possível problema da própria ciência da informação, no qual talvez figure a necessidade de esta última utilizar a receita que ela mesma propôs à biblioteconomia, ou seja, rever seus princípios e fundamentos de construção científica, principalmente os relacionados ao mecanicismo, pois se entende que, teoricamente, os processos que fazem parte e .ue envolvem a informação poderiam ser tratados não apenas pela ótica lógica, mas também pela ótica ilógica, levando-se em consideração fatores como o ruído, a desordem e a complexidade.

V

Pressupõe-se que toda ciência necessita de uma filosofia. Filosofia é amor, amizade ao saber, o intermédio entre a insanidade e o real. A filosofia ocupa-se desses espaços, desses buracos negros deixados pela fragilidade do pensamento casual e isolado. A convergência do pensamento filosófico gera mais pensamento filosófico através de novas/outras percepções proporcionadas pelo consenso que, imediatamente, gera dissenso em função do novo, do atual. Antigas teorias são amadurecidas e estudadas ao longo do tempo, suas possibilidades, às vezes, parecem infinitas. São tão ricas em idéias que isto torna-se um obstáculo. Qual pode ser a melhor ou a interpretação correta? A busca se arraiga. O tudo e o nada emergem constante e violentamente a frente do pesquisador/estudioso. Este não entende que nenhuma e todas as interpretações que brotam em seu pensamento estão corretas e erradas ao mesmo tempo. Que tudo aquilo que está lendo pode não ser o tudo. Assim, recria-se, em atitude criativa e de criação, um novo texto.

Através da representação da representação nasce um novo pensamento. Nasce para morrer e morre, novamente, para nascer. Nascer e morrer, morrer e nascer, na busca pelo conhecimento, na busca do conhecimento do conhecimento, do pensamento do pensamento. A mente pelo conhecimento do conhecimento. Um entorno subjugado? Não. Este aparelho, esta máquina biológica e psíquica, consciente e inconsciente do pensar humano não possui nenhum tipo de caminho sem uma grande lacuna. Renderam-se e render-se-ão a estes mistérios muitos estudos, muitas interpretações que, podem tanto levar ao tudo como ao nada. Isto não significa um círculo de vícios, um despencar para o suicídio, um ponto final ou uma repetição incontida, mas, um círculo em desenvolvimento, em espiral, com movimentos contínuos e descontínuos, uma força irrepreensível de construção e destruição. A força do pensamento (consciente e inconsciente) que ressuscita o conhecimento que não morreu, que jamais morre, que adormece para o homem, para o ser humano. São verdadeiras pulsões de vida e morte, como as representadas na escrita nietzscheana. Este conhecimento possui múltiplas possibilidades de representações e interpretações, possui em si verdades - para aqueles que não enxergam – e, lacunas, labirintos infinitos - para os que se propõem a desenvolver o conhecimento do conhecimento, o pensamento do pensamento.

Essa busca pelo conhecimento não se dá em sua forma original como se pensava e ainda se pensa. Não há conhecimento original. Não há uma única verdade. O conhecimento nunca é crível em seu estado puro. Deve-se duvidar de toda pureza. O ser humano não pode ter acesso a uma única verdade, a um conhecimento puro, ao estado original das coisas. Isto significaria a negação da sua condição de humano e, principalmente, sua condição de ser biológico e racional. Toda racionalização passa por uma interpretação, consciente e inconsciente, que se transforma em representação de uma representação, pois, só se consegue identificar e, possivelmente, acessar e apreender aquilo que está representado. Não se tem acesso ao estado de verdade das coisas. A verdade, já dizia Nietzsche, é um “batalhão móvel de metáforas”.


CAPÍTULO V

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[1] Professor e pesquisador da área de Ciência da Informação.

mfrancelin@yahoo.com.br

[2] Esta é uma versão revista de artigo originalmente publicado em: FRANCELIN, Marivalde Moacir. A epistemologia da Complexidade e a Ciência da Informação. Brasília, Ciência da Informação, v.32, n.2, p.64-68, maio/ago. 2003. Agradeço a gentileza da Revista Ciência da Informação na liberação do artigo.



[i] Sobre as correntes filosóficas, no caso, a materialista (realista) e a idealista, que abordam o objeto e o sujeito, respectivamente, menciona-se que no materialismo (realismo) o objeto é apreendido de sua própria realidade, por este motivo, se sobrepõe à percepção do sujeito: o objeto é responsável pelo processo de conhecimento. No idealismo, entende-se que não há outra realidade sem ser aquela construída pelo sujeito, logo, ele determina o processo de conhecimento. Neste caso, soma-se as duas correntes através do indivíduo como sujeito e indivíduo como objeto.

[ii] Segundo os autores, este processo de composição de conceitos da realidade “nunca está pronto” e se constrói através da utilização de “recursos metodológicos, de meios e processos de investigação.” Tudo para fazer a realidade “ ‘dizer’ o que ela é”. (Luckesi; Passos, 2002, p.18-19). Assim, pode-se fazer uma síntese da metodologia, ao longo do tempo, da seguinte maneira: na Idade Antiga – Sócrates (maiêutica), Platão (dialética), Aristóteles (lógica); na Idade Média – Santo Agostinho (retoma a maiêutica socrática e a dialética platônica), Santo Tomás de Aquino (métodos aristotélicos); na Idade Moderna – os métodos se desenvolvem e tornam-se importantes recursos para a construção do conhecimento; dentre os pensadores que desenvolveram métodos neste período, destacam-se René Descartes (racionalismo cartesiano), Galileu Galilei (investigação, observação e experimentação), Francis Bacon (método indutivo e pesquisa experimental). Desde então (séc. XVII), os métodos se aprimoraram cada vez mais, com novas ferramentas e teorias. Nesse sentido, a divisão mais simples que se pode atribuir aos métodos é: métodos experimentais e teóricos-empíricos. Na contemporaneidade a discussão em torno do método científico concentra-se em sua “validade”. Destacam-se nessa discussão os filósofos da ciência Karl Popper e Thomas Kuhn. (Köche, 2002).

[iii] É evidente que há uma relação estreita entre o determinismo e o indeterminismo. Para existir um fenômeno indeterminado, determina-se, primeiramente, o fenômeno como tal. Dessa forma, determina-se o indeterminável. Porém, essa determinação perde a sua função clássica e dogmática ao pressupor possibilidades e hipóteses para os fenômenos, ou seja, mesmo em sua origem, os fenômenos não são considerados a partir de um evento ordenado ou princípios determinados, formam-se, provavelmente, através de um conjunto de eventos independentes e relacionados - tem-se o princípio da incerteza.

[iv] Refere-se a uma teoria do conhecimento contemporâneo na tentativa de evitar confusões com a teoria do conhecimento ou a epistemologia que, como lembra Japiassu (1991), apenas ocuparam-se com um certo tipo de conhecimento tendo por fundamento, único e primeiro, a razão e por finalidade, única e última, a verdade.

[v] Esta questão implica por si só um paradoxo, pois, uma das premissas que mais se sustentam sobre a existência da pós-modernidade é a própria modernidade: sem esta não seria possível aquela.

[vi] Além das resistências contra algo ainda em construção, algumas outras confusões referiram-se, não tendo repercussão nem êxito, à tentativa de estabelecer um conceito de pós-modernidade relacionado apenas às artes e à literatura, por exemplo, distanciando-o da ciência e da filosofia. Recentemente, um ensaio de um novo debate surgiu, movimentando Sokal e Bricmont (2001) e Pracontal (2004) de um lado e Santos (2002; 2004) do outro, porém, ainda com prejuízo dos primeiros.

[vii] Lembra-se que o conceito de sistema, neste caso, está sendo deturpado em função da noção de descontinuidade, o que não significa, em hipótese alguma, que não possa haver um sistema descontínuo. Desta forma também se analisa o conceito de redução onde, em sentido que pode ser caracterizado como extremo, há a necessidade de se nomear algo, já caracterizando uma redução. Sem se alongar - o que parece fácil – sobre essa discussão, afirma-se que por mais abrangente que se queira ser, sempre haverá um princípio redutor. O contrário também se verifica quando se quer reduzir, implicando categorias de complexidade cada vez maiores.

[viii] Morin desenvolve esse tema a partir do que chama “paradigmatologia”. (Morin, 2001, p.4; 1998).

[ix] O paradoxo pode ser entendido como uma contradição, como uma ambigüidade, como um dilema ou como a própria incerteza. A concepção pretendida neste caso para o termo paradoxo é aquela que parece intermediar e até unir contradições e dilemas, ambigüidades e incertezas, razão e intuição, ou seja, aquilo que é ruim, mas que também é bom, que está entre o específico e o dominante, que está entre o fazer e o não fazer, que está entre o pensar e o não pensar, enfim, aquilo que aterroriza e maravilha a filosofia e a ciência desde os seus primórdios. Então, paradoxo pode ser:

Proposição ou discurso oposto a opinião dominante ou a verossimilhança. O termo pode ser considerado de forma pejorativa quando implica uma simples vontade de chocar ou divertir. Porém, a crítica contemporânea vê igualmente no paradoxo uma tática eficaz para chamar a atenção ou despertar consciências entorpecidas (Sócrates recorre a ele nessa ótica). Quando se o compreende assim por doxa, como R. Barthes, como conformismo majoritário mal fundamentado, pode-se afirmar que qualquer vanguarda artística ou intelectual começa sendo necessariamente paradoxal. (Durozoi; Roussel, 1993, p.355).

Ou,

Etimologicamente ‘paradoxo’ significa ‘contrário’ à opinião adquirida e comum. Cícero dizia que aquilo a que os Gregos chamam paradoxo ‘chamamos-lhe nós coisas maravilhosas’. O paradoxo maravilha porque propõe algo que parece assombroso que possa ser tal como se diz que é. (Ferrater Mora, 1982, p.303).

E também,

“O que é contrário à ‘opinião dos demais’, isto é, ao sistema de crenças comuns a que nos referimos; ou então contrário a princípios que se retêm bem estabelecidos ou a proposições científicas.” (Abbagnano, 1982, p.712).

sexta-feira, 14 de março de 2008

Retórica e Teoria da Informação - Radamés Manosso - Engenheiro curitibano

A

Teoria da Informação foi desenvolvida num ambiente de engenharia e serve para solucionar problemas técnicos de telecomunicação relativos à transmissão de informação. Sua maior preocupação é transmitir informação o mais economicamente possível. Em princípio, isto interessa à Retórica. Então a pergunta: como a Teoria da Informação pode contribuir para o desenvolvimento da Retórica? Talvez possamos responder analisando o que aconteceu em outras áreas do conhecimento.

Desde que foi criada, houve inúmeras tentativas de transplantar as conclusões da Teoria da Informação para outras áreas do conhecimento, para as quais não havia sido concebida. A maioria dos transplantes, porém, resultou em rejeição pelo paciente, pois foi o resultado de uma assimilação mal digerida dos conceitos que a Teoria da Informação usa. Surgiram afirmações absurdas e cômicas, que ganharam status de ciência, simplesmente porque eram citadas como resultados da Teoria da Informação. Alguns exemplos:

  • Quanto mais raro um termo, mais informativo.

  • As línguas naturais são redundantes.

  • Se uma língua natural tem redundância de 55%, pode-se excluir, ao acaso, 55% de suas unidades significativas sem perda do conteúdo.

  • Uma mensagem previsível não traz informação nenhuma.

  • Informação é a organização do caos. É o caminho inverso da tendência natural para a desorganização, que é o princípio da entropia.

  • Informação é a redução da previsibilidade, é a redução das probabilidades de escolha.

  • Quanto maior a taxa de novidade de uma mensagem, maior seu valor informativo.

Absurdos como os enumerados acima são oriundos do desconhecimento do sentido específico que os conceitos informação, redundância e ruído têm na Teoria da Informação, que divergem consideravelmente do significado comum desses termos. Analisemos a seguir esses sentidos específicos.

Informação para
a Teoria da Informação

Informação, nessa teoria, é vista como a quantidade de significante após a tradução para um código otimizado. A Teoria da Informação quer quantificar o significante consumido em cada mensagem. A Teoria da Informação considera que as mensagens não são transmitidas na sua forma original. Antes disso, são traduzidas para uma linguagem artificial otimizada, na qual cada signo do código original é associado a um número binário. Nessa tradução, aos signos originais mais comuns se atribui um número binário de menos dígitos. Aos signos mais raros atribui-se os números binários com mais dígitos. Isso é natural para se economizar tempo de transmissão, pois os signos mais comuns são mais freqüentes no discurso. Se forem representados por números binários de menos dígitos, gastarão menos tempo de transmissão. Já os raros, que são representados por números binários mais extensos, por ocorrerem pouco não prejudicam a economia da transmissão.

Em síntese, informação para a Teoria de Informação, grosso modo, é o número de dígitos binários que uma mensagem precisa para ser transmitida já traduzida para uma linguagem binária otimizada.

Na Teoria da Informação, quando se diz que signos raros são mais informativos, quer-se dizer que na linguagem artificial de transmissão eles são representados por números binários mais extensos e consomem mais informação, mais bits, para serem transmitidos. Isto não tem absolutamente nada que ver com a eficiência dos signos raros na comunicação humana. Não quer dizer que eles sejam mais informativos quando se entende informação como significado.

Redundância para
a Teoria da Informação

A Teoria da Informação compara os códigos reais com um código ideal, que teria as características perfeitas para a economia de transmissão. No código real, cada signo tem uma probabilidade diferente dos demais de aparecer no discurso. No código ideal suposto pela Teoria da Informação, os signos são equiprováveis, quer dizer, numa estatística do discurso, todos ocorrem o mesmo número de vezes. O conceito de redundância é uma comparação entre o código real e o código ideal no que diz respeito à economia de meios de transmissão. O código ideal é de economia máxima. O código real terá uma eficiência avaliada por um percentual em relação ao código ideal. A diferença de eficiência entre o código real e o ideal é o que chamamos de redundância do código.

Quando se afirma que um código tem redundância de 55%, segundo a Teoria da Informação, significa que seu desempenho no tocante à economia de transmissão é de apenas 45% do máximo teórico, que só se alcança com um código ideal.

Partindo dos conceitos que utilizamos neste site, pode-se dizer que um código com redundância de 55% é abundante, possui mais elementos que os necessários à realização econômica dos discursos. Não se pode afirmar, porém, que é possível eliminar 55% de seus signos sem comprometer o sentido, pois, abundância não é redundância.

Ruído para a Teoria da Informação

Na Teoria da Informação, ruído é a diferença entre a quantidade de informação emitida e a recebida. Isto corresponde a uma quantificação do que entendemos por ruído supressivo neste site.